domingo, 24 de março de 2013

O coração do Baobá



Como neste mês comemoramos a Páscoa e o coelhinho fica em evidência aproveitamos este contexto para falar do sentimento que deve estar sempre presente entre as pessoas de valorizar as outras sem interesse para evitar que os corações se fechem para o amor, ao mesmo tempo em que se aproveita para falar das utilidades das árvores, estas nossas maravilhosas companheiras e da cultura dos nossos antepassados africanos e sua forma maravilhosa de educar através das lendas. Esta linda lenda tem como personagens principais o baobá, o coelho e a hiena.  

O coração do baobá
No coração da África, havia uma extensa planície. E no centro dessa planície, erguia-se uma alta e frondosa árvore.Era o baobá. Um dia, embaixo do sol escaldante do meio-dia africano, corria pela planície um coelhinho, que, exausto, suado, quando viu o baobá, correu a abrigar-se à sua sombra. E ali, protegido pela árvore, ele se sentiu tão bem, tão reconfortado, que olhando para cima não pôde deixar de dizer: 
- Que sombra acolhedora e amiga você tem, baobá! Muito obrigado!
O baobá, que não costumava receber palavras de agradecimento, ficou tão reconhecido, que fez balançar os seus galhos e tremular suas folhinhas, como numa dança de alegria.
O coelho, percebendo a reação da árvore, quis aproveitar-se um pouquinho da situação e disse assim: - É, realmente sua sombra é muito boa.... Mas e esses seus frutos que eu estou vendo lá em cima? Não me parecem assim grande coisa... O baobá, picado no seu amor próprio, caiu na armadilha. E soltou, lá de cima de seus galhos, um belo e redondo fruto, que rolou pelo capim, perto do coelhinho. Este, mais do que depressa, farejou o fruto e o devorou, pois ele era delicioso. Saciado, voltou para a sombra da árvore, agradecendo:
- Bem, sua sombra é muito boa, seu fruto também é da melhor qualidade. Mas... e o seu coração, baobá? Será ele doce como seu fruto ou duro e seco como sua casca? O baobá, ouvindo aquilo, deixou-se invadir por uma emoção que há muito tempo não sentia. Mostrar o seu coração? Ah... Como ele queria... Mas era tão difícil... Por outro lado, o coelhinho havia se mostrado tão terno, tão amigo... E assim, hesitante, hesitando, o baobá foi lentamente abrindo o seu tronco. Foi abrindo, abrindo, até formar uma fenda, por onde o coelho pôde ver, extasiado, um tesouro de moedas, pedras e joias preciosas, um tesouro magnífico, que o baobá ofereceu a seu amigo. Maravilhado, o coelho pegou algumas joias e saiu agradecendo: - Muito obrigado, bela árvore! Jamais vou te esquecer! E chegando à sua casa, encontrou sua esposa, a coelha, a quem presenteou com as joias. A coelha, mais do que depressa, enfeitou-se toda com anéis, colares e braceletes e saiu para se exibir para suas amigas. A primeira que ela encontrou foi a hiena, que, assaltada pela inveja, quis logo saber onde ela havia conseguido joias tão faiscantes. A coelha lhe disse que nada sabia, mas que fosse falar com seu marido. A hiena não perdeu tempo: foi ter com o coelho, que lhe contou o que havia acontecido.
No dia seguinte, exatamente ao meio-dia, corria a hiena pela planície e repetia passo a passo tudo o que o coelho lhe havia contado. Foi deitar-se à sombra do baobá, elogiou-lhe a sombra, pediu-lhe um fruto, elogiou-lhe o fruto e finalmente pediu para ver-lhe o coração.O baobá, a quem o coelhinho na véspera havia tornado mais confiante e mais generoso, dessa vez nem hesitou. Foi abrindo o seu tronco, foi abrindo, bem devagarzinho, saboreando cada minutinho de entrega. Mas a hiena, impaciente, pulou com suas garras no tronco do baobá, gritando: - Abra logo esse coração, eu não aguento esperar! Ande! Eu quero todo esse tesouro para mim, eu quero tudo, entendeu?
O baobá, apavorado, fechou imediatamente o seu tronco, deixando a hiena de fora a uivar desesperada, sem conseguir pegar nenhuma joia. E por mais que ela arranhasse a árvore, ela nada conseguiu. A partir desse dia é que a hiena ganhou o costume de vasculhar as entranhas dos animais mortos, pensando encontrar ali algum tesouro. Mal sabe ela que esse tesouro só existe enquanto o coração é vivo e bate forte. Quanto ao baobá, nunca mais ele se abriu. A ferida que ele sofreu é invisível, mas dificilmente curável. O coração dos homens se parece com o do baobá. Por que ele se abre tão medrosamente quando ele se abre? Por que às vezes ele nem se abre? De que hiena será que ele se recorda? 


Aprenda um pouco sobre o baobá:
No Senegal, o baobá é sagrado, sendo utilizado como fonte de inspiração para lendas, ritos e poesias. Segundo uma antiga lenda africana, se um morto for sepultado dentro de um baobá, sua alma irá viver enquanto a planta existir pois o baobá tem uma vida muito longa: vive entre um e seis mil anos.Esse colosso vegetal pode atingir trinta metros de altura. Os curandeiros ou feiticeiros da savana africana escavam alguns dos baobás com maior tronco e conseguem armazenar neles até 120.000 litros de água. Por tal razão, é denominada "árvore garrafa".
Existe também uma lenda sobre a aparência da árvore:

"No início da vida, Deus criou, primeiramente, a árvore baobá, que implorava que o criador modificasse sua aparência até que Deus, irritado, tomou uma decisão:
... o criador agarrou o baobá, arrancando-o do chão e o plantou novamente.
Só que... dessa vez, foi de ponta cabeça, para que ele ficasse de boca calada."
Por isto o baobá tem esta aparência, como se a raiz estivesse no lugar onde deveria ser a copa da árvore.Todos os elementos dessa árvore são úteis para a sobrevivência do ser humano e representam, também, uma fonte preciosa de medicamentos. No que diz respeito à construção civil e à carpintaria, o baobá só é utilizado quando não há outro material disponível. Contudo, em certas regiões, as pessoas escavam o seu tronco e utilizam-no como cisterna comunitária. A madeira do baobá serve para fabricar instrumentos musicais e, o seu cerne, rende uma fibra tão forte, que é usada na fabricação de cordas e linhas. As conchas dos seus frutos são aproveitadas como tigelas.por conta de todas estas utilidades esta árvore sofreu a devastação pelo desmatamento. No nordeste ainda encontramos raros baobás que resistiram ao desmatamento e à depredação ambiental. No Rio de Janeiro, existem dez exemplares de baobás, sendo um deles o maior do Brasil com cerca de 25m de altura. Nove exemplares estão localizados na Praça da República (Campo de Santana), em frente a Central do Brasil, e um exemplar em Campos dos Goytacazes.



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