Como neste mês comemoramos a Páscoa e o coelhinho fica em evidência aproveitamos este contexto para falar do sentimento que deve estar sempre presente entre as pessoas de valorizar as outras sem interesse para evitar que os corações se fechem para o amor, ao mesmo tempo em que se aproveita para falar das utilidades das árvores, estas nossas maravilhosas companheiras e da cultura dos nossos antepassados africanos e sua forma maravilhosa de educar através das lendas. Esta linda lenda tem como personagens principais o baobá, o coelho e a hiena.
O
coração do baobá
No
coração da África, havia uma extensa planície. E no centro dessa planície,
erguia-se uma alta e frondosa árvore.Era o baobá. Um dia, embaixo do sol
escaldante do meio-dia africano, corria pela planície um coelhinho, que,
exausto, suado, quando viu o baobá, correu a abrigar-se à sua sombra. E ali,
protegido pela árvore, ele se sentiu tão bem, tão reconfortado, que olhando
para cima não pôde deixar de dizer:
-
Que sombra acolhedora e amiga você tem, baobá! Muito obrigado!
O baobá, que não costumava receber palavras de agradecimento, ficou tão
reconhecido, que fez balançar os seus galhos e tremular suas folhinhas, como
numa dança de alegria.
O
coelho, percebendo a reação da árvore, quis aproveitar-se um pouquinho da
situação e disse assim: - É, realmente sua sombra é muito boa.... Mas e esses
seus frutos que eu estou vendo lá em cima? Não me parecem assim grande
coisa... O baobá, picado no seu amor próprio, caiu na armadilha. E soltou,
lá de cima de seus galhos, um belo e redondo fruto, que rolou pelo capim, perto
do coelhinho. Este, mais do que depressa, farejou o fruto e o devorou, pois ele
era delicioso. Saciado, voltou para a sombra da árvore, agradecendo:
- Bem, sua sombra é muito boa, seu fruto também é da melhor qualidade. Mas... e
o seu coração, baobá? Será ele doce como seu fruto ou duro e seco como sua
casca? O baobá, ouvindo aquilo, deixou-se invadir por uma emoção que há
muito tempo não sentia. Mostrar o seu coração? Ah... Como ele queria... Mas era
tão difícil... Por outro lado, o coelhinho havia se mostrado tão terno, tão
amigo... E assim, hesitante, hesitando, o baobá foi lentamente abrindo o seu
tronco. Foi abrindo, abrindo, até formar uma fenda, por onde o coelho pôde ver,
extasiado, um tesouro de moedas, pedras e joias preciosas, um tesouro
magnífico, que o baobá ofereceu a seu amigo. Maravilhado, o coelho pegou
algumas joias e saiu agradecendo: - Muito obrigado, bela árvore! Jamais
vou te esquecer! E chegando à sua casa, encontrou sua esposa, a coelha, a
quem presenteou com as joias. A coelha, mais do que depressa, enfeitou-se toda
com anéis, colares e braceletes e saiu para se exibir para suas amigas. A
primeira que ela encontrou foi a hiena, que, assaltada pela inveja, quis logo
saber onde ela havia conseguido joias tão faiscantes. A coelha lhe disse que
nada sabia, mas que fosse falar com seu marido. A hiena não perdeu tempo: foi
ter com o coelho, que lhe contou o que havia acontecido.
No dia seguinte, exatamente ao meio-dia, corria a hiena pela planície e repetia
passo a passo tudo o que o coelho lhe havia contado. Foi deitar-se à sombra do
baobá, elogiou-lhe a sombra, pediu-lhe um fruto, elogiou-lhe o fruto e
finalmente pediu para ver-lhe o coração.O baobá, a quem o coelhinho na
véspera havia tornado mais confiante e mais generoso, dessa vez nem hesitou.
Foi abrindo o seu tronco, foi abrindo, bem devagarzinho, saboreando cada
minutinho de entrega. Mas a hiena, impaciente, pulou com suas garras no tronco
do baobá, gritando: - Abra logo esse coração, eu não aguento esperar!
Ande! Eu quero todo esse tesouro para mim, eu quero tudo, entendeu?
O baobá, apavorado, fechou imediatamente o seu tronco, deixando a hiena de fora
a uivar desesperada, sem conseguir pegar nenhuma joia. E por mais que ela
arranhasse a árvore, ela nada conseguiu. A partir desse dia é que a hiena
ganhou o costume de vasculhar as entranhas dos animais mortos, pensando
encontrar ali algum tesouro. Mal sabe ela que esse tesouro só existe enquanto o
coração é vivo e bate forte. Quanto ao baobá, nunca mais ele se abriu. A
ferida que ele sofreu é invisível, mas dificilmente curável. O coração dos
homens se parece com o do baobá. Por que ele se abre tão medrosamente quando
ele se abre? Por que às vezes ele nem se abre? De que hiena será que ele se
recorda?
Aprenda um pouco sobre o baobá:
No Senegal, o baobá é sagrado, sendo utilizado como fonte de
inspiração para lendas, ritos e poesias. Segundo uma antiga lenda africana, se
um morto for sepultado dentro de um baobá, sua alma irá viver enquanto a planta
existir pois o baobá tem uma vida muito longa: vive entre um e seis mil
anos.Esse colosso vegetal pode atingir trinta metros de altura. Os curandeiros
ou feiticeiros da savana africana escavam alguns dos baobás com maior tronco e
conseguem armazenar neles até 120.000 litros de água. Por tal razão, é
denominada "árvore garrafa".
Existe
também uma lenda sobre a aparência da árvore:
"No
início da vida, Deus criou, primeiramente, a árvore baobá, que implorava que o
criador modificasse sua aparência até que Deus, irritado, tomou uma decisão:
... o
criador agarrou o baobá, arrancando-o do chão e o plantou novamente.
Só que...
dessa vez, foi de ponta cabeça, para que ele ficasse de boca calada."
Por isto
o baobá tem esta aparência, como se a raiz estivesse no lugar onde deveria ser
a copa da árvore.Todos
os elementos dessa árvore são úteis para a sobrevivência do ser humano e
representam, também, uma fonte preciosa de medicamentos. No que diz respeito à construção civil
e à carpintaria, o baobá só é utilizado quando não há outro material
disponível. Contudo, em certas regiões, as pessoas escavam o seu tronco e
utilizam-no como cisterna comunitária. A madeira do baobá serve para fabricar
instrumentos musicais e, o seu cerne, rende uma fibra tão forte, que é usada na
fabricação de cordas e linhas. As conchas dos seus frutos são aproveitadas como
tigelas.por conta de todas estas utilidades esta árvore sofreu a devastação
pelo desmatamento. No nordeste ainda encontramos raros baobás que resistiram ao
desmatamento e à depredação ambiental. No Rio de Janeiro, existem dez exemplares
de baobás, sendo um deles o maior do Brasil com cerca de 25m de altura. Nove
exemplares estão localizados na Praça da República (Campo de Santana), em
frente a Central do Brasil, e um exemplar em Campos dos Goytacazes.